Abismo: Poemas, Neurodivergência e a Busca por Sentido na Adolescência
Explore as versões do poema "Abismo" e mergulhe em uma análise profunda sobre a neurodivergência e a percepção de vida na adolescência. Uma jornada de autoconhecimento e arte.
Montagem de uma exposição de Ukyo-e na Biblioteca da Unespar, 2012
Abismo
Versão Original (Escrita entre 1994-1998)
Seria de constrangedor e profundo egoísmo afirmar impertinente que só busco alívio, mas para meu ser o mundo é um abismo de tolas palavras e torturantes vestígios. Em minha alma nada tenho de concreto. À minha volta, nada do que me é mostrado traz algum indício de ser certo, e na incerteza nada é digno de ser ignorado. Eis que me tornei um confuso arquivo: sem ordem, sem simetria, sem finalidade, e com a tola necessidade de saber a que vivo.
Ao postar o poema "Eu" na semana passada, logo me vi presa ao poema que com ele dividia a página. "Abismo" conduz a um mergulho ainda mais fundo no que era minha percepção da vida na adolescência. Uma percepção que, por diversas vezes, colocou minha vida em risco, especialmente quando essa falta de sentido e propósito na vida se desenrolava ao meu redor e nas pessoas que participavam desse caos e, por vezes, o precipitavam. Faltava, a meu ver, lógica, coerência e honra. Talvez por isso eu gostasse tanto de "filmes de kung fu". Ler "Abismo" através das lentes da neurodivergência me ajuda a compreender por que levei tantos anos para entender quem sou e por que me sentia tão diferente.
Na versão impressa, "Abismo" está em um bloco só.
Abismo- Versão original Blocada Seria de constrangedor e profundo egoísmo afirmar impertinente que só busco alívio, mas para meu ser o mundo é um abismo de tolas palavras e torturantes vestígios. Em minha alma nada tenho de concreto. À minha volta, nada do que me é mostrado traz algum indício de ser certo, e na incerteza nada é digno de ser ignorado. Eis que me tornei um confuso arquivo: sem ordem, sem simetria, sem finalidade, e com a tola necessidade de saber a que vivo.
Mas sua forma claramente evoca um soneto, cujo tema se esgotou na terceira estrofe. Ainda não me parece que caiba mais uma estrofe, e nem me pareceu quando, anos atrás, reescrevi a lápis, no cabeçalho, os dois primeiros quartetos. Abaixo deixo essa versão.
Abismo (Com Revisão de Cerca de uma Década Atrás)
Seria de constrangedor e profundo egoísmo afirmar impertinente que só busco alívio, mas para mim o mundo é um abismo de palavras mal ditas e vestígios. Em mim nada tenho de concreto. Ao meu redor, nada do que é mostrado traz algum indício de ser certo, e na dúvida nada tenho ignorado. Eis que me tornei um confuso arquivo: sem ordem, sem simetria, sem finalidade, e com a tola necessidade de saber a que vivo.
À medida que releio esses poemas à luz da neurodivergência, pergunto-me se não cabe, em um futuro próximo, lançar finalmente "Retrato das Sombras" (como registrado na Biblioteca Nacional), com essas revisões e comentários, claro. Parece-me que essa leitura atual desvenda um pouco mais da comunicação autista, sobretudo, da mulher autista. E desvela a luta desgastante que uma autista sem suporte encara, e como, para mim, muito dessa luta se deu no campo da escrita. Penso que pode funcionar como arte e como material de estudo para linguistas e neuropsicólogos. Qual sua opinião sobre isso, caro Leitor?